Aproveitando a comemoração do dia dos pais nesse último mês, resolvi escrever sobre a importância da função paterna no desenvolvimento da criança.
Primeiramente gostaria de esclarecer sobre o que denomino “função paterna”: é a influência do pai sobre o desenvolvimento psíquico da criança. Já sob o nome “pai”, me refiro àquele que ocupa tal posição, na qual também pode estar presente qualquer outra figura masculina como, por exemplo, um tio próximo ou um avô.
Bom, então, qual é a influência psíquica que o pai exerce sobre o filho? Para responder a essa questão é necessário recorrer ao princípio de tudo: ao nascimento.
Nos primeiros meses de vida, a criança e a mãe possuem uma relação muito intensa, diria simbiótica, pelo fato do recém-nascido se perceber como extensão do corpo da mãe. É como se fossem um só. Essa fase, denominada por Freud como pré-edipiana, é caracterizada pela total dependência do bebê em relação à sua mãe. Aos poucos, tal etapa vai sendo substituída pela fase edipiana, também muito conhecida como Complexo de Édipo. Esta é caracterizada pela entrada do pai com o estabelecimento de uma relação triangular: pai, mãe e filho. Pois bem, essa passagem é fundamental e marca a estrutura psíquica da criança.
Uma paralisação na etapa pré-edipiana pode levar a graves efeitos na construção da identidade de uma pessoa. Podemos tomar como um exemplo, que costuma chegar ao consultório do psicólogo, o caso em que criança e mãe são tão ligadas a ponto de só dormirem juntas. Nessas situações, o pai, geralmente por motivos diversos, se mostra excluído da dinâmica da família. Tal estrutura familiar pode levar ao retraimento da criança em seu convívio com os colegas de escola, e, posteriormente, a timidez do adulto com suas dificuldades de relacionamento comprometendo, inclusive, sua atividade profissional.
Portanto, é de vital importância que a mãe dê espaço para o pai intervir promovendo um primordial processo de mudança na relação mãe e filho. Só por essa via é que a criança pode se descobrir no momento em que vai se descolando da figura materna e percebendo o pai como incluído na dinâmica da família.
Desse modo, uma relação, antes ilimitada, na qual o bebê podia tudo, quando era extremamente dependente e não possuía o seu “eu” constituído, posteriormente, através da intervenção do pai que implica em mudanças, a criança percebe os limites que dizem respeito ao seu próprio corpo.
Isso acarreta a percepção de outros limites que se relacionam, por exemplo, com a aceitação de um “não”, com a capacidade de se frustrar, a qual é de extrema importância para a convivência social de forma saudável.