domingo, 6 de junho de 2010

O efeito da música sobre o emocional

“Somos feitos de silêncio e sons...”
Lulu Santos


Ao pensar nesse tema, o que primeiro veio a minha cabeça foi o trecho da música acima. Sim! Realmente somos feitos de silêncio e de sons se pensarmos o corpo humano como um instrumento musical, o qual produz e responde aos estímulos sonoros.

Portanto, antes mesmo de falarmos em música devemos nos ater ao som, ou melhor, à vibração que ele emite. É através dessa vibração que temos o primeiro contato com o mundo exterior. Ele é fundamental para a estruturação do indivíduo.

Ao nascer a criança não entende o sentido das palavras, mas é sensível ao som que elas emitem e à sua entonação. Assim, é importante palavras de carinho que embalam e denotam sensação de proteção à criança. É fato que um ambiente hostil com som alto e muitos ruídos são altamente agressivos ao bebê.

O som e, por associação, a música produzem marcas ao longo da vida de um indivíduo e influenciam o modo com que vemos as coisas. É por isso que certas músicas nos deixam felizes e outras tristes, pois nos remetem a lembranças do passado.

A música, como disse, também influencia a imagem, essa se torna mais clara se nos remetermos às propagandas, novelas ou filmes que utilizam desse artifício de modo a imprimir impressões no telespectador sobre uma determinada cena. Faça essa experiência em casa, ao assistir um filme de suspense ou terror em uma cena com música, tire o volume da televisão e veja qual foi a impressão que ela lhe causou. Provavelmente não a verá com o mesmo impacto.

Portanto, a música nos evoca impressões, inclusive corporais, que nos permite reviver sensações de nossa primeira infância. Lá, aonde o som era o único canal de comunicação com o mundo externo. Lá, aonde somos feitos a partir de silêncio e sons.

domingo, 21 de março de 2010

Depressão, Tristeza e Luto

Vivemos numa época em que existe uma dificuldade grande em lidar com a tristeza, o que gera uma confusão quanto a tal sentimento, por vezes, tratado como depressão.

Veja, é como se o “estar triste” não fosse natural e necessário para o nosso desenvolvimento, assim como a felicidade. Podemos, sim, ficar tristes nas mais adversas situações, das quais a vida nos apresenta como, por exemplo, um desentendimento, um problema com o colega, uma discussão no trânsito, entre outros.

Já o estado de luto, embora seja uma vivência da tristeza em um grau mais profundo, também é natural e, igualmente, necessário em certas ocasiões. Mas por que necessário? O que significa o luto? Bom, o luto é quando alguém passa pela experiência de perda, por exemplo, de uma pessoa querida e, tal momento é sentido como muito sofrimento. Digo ser necessária a vivência desse estado, por ser um período em que a perda é, de fato, sentida, o que é de grande importância porque assim é possível elaborar e atravessar essa fase.

Assim sendo, devemos estar em alerta para os casos em que há uma incoerência entre o fato e o sentimento despertado. Um luto não vivido em razão de uma perda, pode trazer conseqüências devastadoras como uma depressão posterior.

Na depressão, a incoerência entre um fato e sua reação também se apresenta. Contudo, nesse quadro, qualquer situação corriqueira pode levar a uma profunda tristeza. Também é um sinal de depressão quando um estado de luto diante de uma perda estende-se por mais tempo que um período de aproximadamente, seis meses.

Diante de um quadro de depressão, toda a vida do indivíduo é afetada, suas relações familiares, de amizade; há um isolamento social, perda da vontade, dificuldade de executar atividades diárias. Portanto, também afeta seu desempenho profissional.

Veja alguns sintomas psíquicos e físicos da depressão:

-- Sintomas Psíquicos:

-Sentir-se deprimido;
-Interesse diminuído, perda de prazer para realizar atividades rotineiras;
-Sensação de inutilidade;
-Dificuldade em concentrar-se;
-Insônia ou sono excessivo;
-Idéias recorrentes de morte ou suicídio.

--Sintomas físicos:

-Dor de cabeça;
-Fadiga;
-Constipação intestinal (prisão de ventre) ou diarréia;
-Perda ou ganho excessivo de peso;
-Sensação de opressão no peito;
-Dificuldade de respirar, sensação de falta de ar;

Para aqueles que conhecem alguém próximo com tais sinais, o melhor a fazer é ouvir sem a intenção de exigir mudanças do outro. A compreensão do quadro é a melhor forma de aproximar-se e aconselhá-lo a procurar ajuda de um profissional especializado.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Repensando As Mordidas Na Creche

Ninguém gosta que seu filho seja mordido e, geralmente, a família sente-se preocupada quando seus pequenos são mordidos ou mordem alguém. Em geral, os pais procuram saber quem são os mordedores e, por vezes,  se sentem culpados ao deixar seus filhos em creches, cuja atenção não é exclusiva a seu filho.

Por essas questões, é oportuno discutirmos sobre o significado das mordidas: será que é um problema sério?

Em primeiro lugar, é bom lembrar que é pela boca que a criança tem o seu primeiro contato com o mundo, chorando, mamando, sugando, levando os objetos à boca...e mordendo!

Portanto, podemos pensar que as mordidas, durante os três primeiros anos de vida, são uma forma da criança conhecer o mundo. Por exemplo: diferenciando o duro do mole ou percebendo diferentes reações que as mordidas podem provocar. A mordida também pode ser utilizada como canal de expressão de insatisfação, desentendimento de determinada situação, modo de conseguir o que deseja ou de defesa, podendo, assim, nos dar pistas de um progresso em seu desenvolvimento.

Compreendidas como indicadores do desenvolvimento, as mordidas marcam uma fase natural da criança que, como toda fase, é passageira. Assim, precisamos ter o cuidado de não rotular a criança como "mordedor". Quanto mais enfatizarmos essa característica na criança, mais ela se comportará como tal, pois é o que todos esperam dela. Entretanto, se a mordida for muito frequente, de modo a privar a criança de realizar outras atividades, certamente será importante um psicólogo conversar com os responsáveis para que seja possível haver uma melhor compreensão sobre tal conduta da criança e orientação aos pais.

De qualquer forma, não podemos esquecer de que as crianças usam, sim, esse tipo de comportamento durante a primeira infância, devendo esse desaparecer tão logo a criança consiga se expressar através do uso das palavras. Portanto, o caminho para o abandono das mordidas é através do aprendizado da fala.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Rotina: um obstáculo para as nossas vidas?

                                    
                        “Todo dia ela faz tudo sempre igual...”
                                                         (Chico Buarque)



Todo dia acordamos
Todo dia comemos
Todo dia dormimos...

É! Todo dia há um “sempre igual” como na música de Chico Buarque. Essa é a descrição costumeira da rotina, apontada pelo dicionário Aurélio como uma “seqüência de atos”.

Há um “sempre igual”, uma “seqüência de atos” que é uma exigência da vida. É um imperativo! Sempre dormiremos, comeremos e acordaremos enquanto houver vida.

Entretanto, há uma rotina que a vida não cobra, embora, haja uma tendência a achar o contrário. Diante dessa tendência, calamos nossos desejos, nossa sensibilidade – apagamos nosso olhar— Ora, isso não é preciso ser amortecido, podado. A custo de quê? Da vida?

Rotina e sonhos: rotina e nossa capacidade de se expressar podem e devem caminhar juntas de modo a que nossa expressão possa enriquecer essa rotina e mudar suas rotas necessárias, as quais não são obstáculos. São necessárias!



                            “...me sacode às seis horas da manhã, me sorri um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã”
                           (Chico Buarque)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Sobre a função paterna

Aproveitando a comemoração do dia dos pais nesse último mês, resolvi escrever sobre a importância da função paterna no desenvolvimento da criança.

Primeiramente gostaria de esclarecer sobre o que denomino “função paterna”: é a influência do pai sobre o desenvolvimento psíquico da criança. Já sob o nome “pai”, me refiro àquele que ocupa tal posição, na qual também pode estar presente qualquer outra figura masculina como, por exemplo, um tio próximo ou um avô.

Bom, então, qual é a influência psíquica que o pai exerce sobre o filho? Para responder a essa questão é necessário recorrer ao princípio de tudo: ao nascimento.
Nos primeiros meses de vida, a criança e a mãe possuem uma relação muito intensa, diria simbiótica, pelo fato do recém-nascido se perceber como extensão do corpo da mãe. É como se fossem um só. Essa fase, denominada por Freud como pré-edipiana, é caracterizada pela total dependência do bebê em relação à sua mãe. Aos poucos, tal etapa vai sendo substituída pela fase edipiana, também muito conhecida como Complexo de Édipo. Esta é caracterizada pela entrada do pai com o estabelecimento de uma relação triangular: pai, mãe e filho. Pois bem, essa passagem é fundamental e marca a estrutura psíquica da criança.

Uma paralisação na etapa pré-edipiana pode levar a graves efeitos na construção da identidade de uma pessoa. Podemos tomar como um exemplo, que costuma chegar ao consultório do psicólogo, o caso em que criança e mãe são tão ligadas a ponto de só dormirem juntas. Nessas situações, o pai, geralmente por motivos diversos, se mostra excluído da dinâmica da família. Tal estrutura familiar pode levar ao retraimento da criança em seu convívio com os colegas de escola, e, posteriormente, a timidez do adulto com suas dificuldades de relacionamento comprometendo, inclusive, sua atividade profissional.

Portanto, é de vital importância que a mãe dê espaço para o pai intervir promovendo um primordial processo de mudança na relação mãe e filho. Só por essa via é que a criança pode se descobrir no momento em que vai se descolando da figura materna e percebendo o pai como incluído na dinâmica da família.

Desse modo, uma relação, antes ilimitada, na qual o bebê podia tudo, quando era extremamente dependente e não possuía o seu “eu” constituído, posteriormente, através da intervenção do pai que implica em mudanças, a criança percebe os limites que dizem respeito ao seu próprio corpo.

Isso acarreta a percepção de outros limites que se relacionam, por exemplo, com a aceitação de um “não”, com a capacidade de se frustrar, a qual é de extrema importância para a convivência social de forma saudável.